domingo, 20 de maio de 2012

Do seu corpo são poesias!

Era como se fosse uma poesia. A estrofe, as linhas embaralhadas, o papel, o lápis, a forma poética, o olhar crítico, o amor...
O livro do seu corpo era aberto. O toque, os cabelos negros encontrando os cabelos avermelhados. Era uma junção do oposto com o que queria ser posto. A voz na pele a pele na boca. A intenção de uma ideia partida e comida com os olhos. E que olhos!
Inesperado. O peso em seus ombros foi totalmente esquecido diante outro peso, o do nó. O mais conhecido: Nó na garganta. E ao mesmo tempo o mais intencional. Era para ser momento apenas. Florear com palavras, gestos e adornos não tinha necessidade. E a mão poderia levar para onde quiser e levou. A mão estendida fez chover flores com espinhos não cortantes sobre o lado mais aberto que o corpo deixou.
Arte concisa. Pré-arte, pós-arte, arte inacabada, arte barroca, arte contemporânea, pop arte, todas as artes. A junção da obra com o autor. Todos os autores. O borrão que fez história. O borrão mais borrado e lindo que fez história. O borrão que não é borrão, mas são traços contornados, esmiuçados, cantarolados, desenhados, premeditados e novamente: Intencionados. A sua arte e de ninguém mais.
Agora posto em suma, guardado em baú pintado à mão, diz que é seu. E é seu. Nada além de poetizar. Nada além de doar. Imerso a dualidade de estranhos, deixa o silêncio merecido e invadido encontrar com os cabelos, agora já alvoroçados pelas horas que já se fez ausência. A rima sombreada. O chão pisado, embriagado pelo cheiro das lembranças, em quarto escuro, arejando o que se pode ainda salvar. Emoções trêmulas e o grito de “alto lá” que o corpo pretendia dizer.

Poesia. A sua poesia.


Trecho de Saia de Retalhos!

(...)
A menina da saia que corre. A menina do medo que some. A menina da infância enrugada e da velhice colorida. A menina do amor imenso que o mar transformou em ondas e faz quebrantar todo dia na sua praia. A menina palerma da boca de cera. A menina do olhar inventado por todos que a olham. A menina acanhada do interior da imensidão que colhe flores todos os dias em jardins suspensos na babilônia rotina do mais populoso centro da cidade. A menina da saia de retalhos que retalha seus sonhos e sonha o amor do amor de outra menina. A eterna menina que está nas mulheres já mortas pelo descaso de uma imensidão de meninas iguais, em série, de um jogo de quebra-cabeça. A sua menina. E ao término, a pergunta do esquecido: Onde está a sua menina?


(E ainda toca a mesma melodia do além-mar nas conchas enormes que a menina catava de tardinha...).



segunda-feira, 14 de maio de 2012

Chorinho de inverno

O caos da gritaria inundava o coração que é silencioso.
A poça pisada não dita nada.
O abraço imaginário, a vontade de escrever um livro no seu olhar. A vontade de falar ao ver sua alma.
A pintura de seus cílios, a forma com que escreve, o  contorno dos seus lábios, a sua pele.
A sombra daquela árvore manchou o meu corpo. As folhas secas, as flores surgindo...O dia indo e a noite chegando. A aurora.
E já lembro de quando não existia o medo. As poucas palavras foram as certas. E até hoje cantarolo como minha canção.


segunda-feira, 7 de maio de 2012

Ilusão boa

Você é a última dose, o veneno mais profundo em que a boca experimentou.
Ao invés de dançar em salto agulha, patino sobre o gelo em busca de algo incrível.
Gosto do seu silêncio ao acordar e gosto também dos seus gritos quando não acordo.
E então - como se fosse a última vez - me aproximo dos seus olhos e canto a canção que o vento me ensinou. Deixo você partir, sabendo que amanhã é a tua voz que me acordará.


(...)


Ao encontro de dias nevados, brindo com o mais puro vinho. Ao encontro de um mundo só, brindo ao amor estranho. Pode fingir o encanto e pode ser uma boa ilusão. Assim...

sexta-feira, 4 de maio de 2012

De olhos fechados.

Já tinha decorado seu corpo, as falas e as línguas eram universais.
Ao passo corrido, tinha o sangue fervendo sua pele arrepiada sonhando em criar um diálogo.
Em mais pura solitude, conseguiu extravasar.
E foi o medo da ponte que os uniu.
Atravessando-a, os pés não alcançavam o chão. Epitáfio.
O corpo do corpo da alma em transe.
(Silêncio).


quinta-feira, 3 de maio de 2012

Dos trechos de um diário

     Agora consegui o silêncio. São como andorinhas voando para o seu ninho  e eu fecho meus olhos e vejo a suavidade e posso tocá-la, senti-la.Faço um poema com as mãos e fotografo com a alma.
    A tristeza até tenta pegar-me, tirar a minha roupa, deixar-me poeta, com trapos, mas eu fujo.
    Agora eu posso ouvir o trincar da porta e o meu coração fica pequeno, apresenta-se ao medo.
    As horas são tempo, o que sinto é agora, anseio por palavras, quero ir ao teu encontro, na meia noite do inverno a dança é diferente.
     As coisas de amor viram tolices e as juras são apenas palavras ao vento. Não trago-lhe rosas, não deixo-lhe marcas. Sou a viajante com a mochila nas costas e o meu paradeiro é a tua pele.
     Agora o silêncio vai diminuindo, a valsa vai acabando e os sentidos também. Não toco mais a sua boca, a TV está ligada e alta faz morrer os meus sonhos.
     Agora você pode estar em algum lugar que se chama saudade e pode estar bebendo o líquido que não são os meus beijos, doces beijos.

(Até breve sr. individual).

(...)

A carta - Parte (Dois).


Olá, não costumo deixar um olá no começo das cartas. Você sabe disso. Aliás, não costumo ser começo quando quero ser final. Mas, apenas hoje, deixo acontecer.
 Ao término, porque serei muito breve, não quero encontrar o seu medo sondando os meus sonhos. Porque eu vou dormir de forma espontânea e bem leve, terei sonhos com arcanjos e a luz que verei é colorida.
 Só estou escrevendo essa pequena carta, que talvez possa até ser um bilhete, mas como é intenso (pelo menos da forma que está sendo enviada), para informá-lo senhor autor desconhecido que o meu coração não é uma vaga e os carros não precisam pagar por hora nem fração.
 Já deixei livre, o acento, as vírgulas, a nova grafia da gramática para pensar na ideia de esquecer-lhe. Eu disse pensar?Ah! Não precisa se vangloriar, pois o esquecer é algo vasto e estou nessa caminhada.
 O meu corpo não é mais o cavaquinho que você tirava melodias e tocava ao luar. O meu corpo não é mais a sua melodia. Não deixo- te nenhuma delas, não tem direitos autorais, porque todas são minhas e pretendo usá-las em minhas outras 'cavaquices'.
 Então, Adeus. Prefiro essa palavra por um até logo. Não uso de falsidade, não uso de piegas, um até breve seria hipocrisia. Deixo-te a casa e me refugio ao mar. Deixo-te as coisas e me levo pura e serena para as ondas. Deixo-te o medo de ser sozinho e egoísta e vou-me para o grande e imenso amor próprio. Adeus. Ao Deus que me livrou de ti.
Seja o teu único e envolvente pesadelo e nos dias de sol pode olhar para o céu e sentir o calor que o meu corpo faz.

Adeus.

De outra que não era aquela-sua...