sábado, 29 de setembro de 2012

Desarrumado

Ao teu encontro, não meço instantes, o tempo é meu cúmplice e me deixa tão à vontade que o sorriso não cabe em meus lábios. E ao mesmo tempo não é meu nada ainda, são castelinhos em cada pedacinho, e faz de conta que tenho tudo arrrumadinho aqui dentro. Ao mesmo tempo, tempo não medido, cheiro de molhado, passos pausados, deixo o dia raiar, um de cada vez.


(...)

Sempre tem muitas reticências, deixe-se ir...


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Amor odiado.

O amor odiado.
estremecido.
caído.
canalha.
gosto amargo.
saindo.
salivado.
mastigado.
Odiado eterno.
olho piscando, invasão.
mentiras.
a mão em um aceno vazio.
solidão.
Das carnes secas, ossos e pó.
sacanagem.
pele.
inteiro.
e no meio do mundo, inverno.
Sem mofo, ao sol.
Amor odiado, canibal.

Mariana Nunes



quarta-feira, 27 de junho de 2012

O olhar de menino transparente.
 A distância entre a boca e as ideias.
 Você é safo, largo, cheio de bagagem.
 Eu sou frágil, só, cheia de estrelas.
 A dança começou.
 Em pista, a só deixa o triste menino.
 O triste menino deixa ficar só...
 A escolha é atirar-se ao lado da estranha com olhar medíocre.
 Solução errada.
 Triste desencontros.
 Só e mar.
 Não torna-se canção.

(Mariana Nunes).

domingo, 10 de junho de 2012

Madrugada

Dos teus abraços,
O cheiro doce é o mais nítido.
Já não lembro mais o seu rosto, a forma retangular ou arredondada, mas ainda sinto o teu cheiro.
Em verdes pastos deito-me e sinto a fotossíntese abraçar-me.
Lembro das covinhas chegando perto de mim, engolindo-me e rindo sob o meu peito. Lembro das ácidas brigas, do café bem forte, dos cortes, da solidão. Lembro de como você perto fazia-me tão comprida, larga e extensa.
E agora não sou o ponto final mas fico dentro das reticências.
E dos teus beijos, a língua presa em um diálogo sem fim não diz nada, enrolada gagueja um até logo.
São monólogos de um amor emocionado. Sozinho ama a espécie cruel que nasceu em seu olhar.
Dorme medo meu,dorme.


quinta-feira, 7 de junho de 2012

Sem "dó" em "mi maior"

    Emociona o amor que pode ser e sendo liberta todos os medos escondidos em partes que não tinham.
    A escuridão que encobria o seu olhar me trouxe um café bem forte e conversamos por horas. Disse que não te quer mais e vai trazer o sol para dissolver a tua alma, trazendo-a detalhadamente para mim...
    Em um canto na beira-mar procuro sentir o vento em contratempo pulsar em meu rosto e esqueço o quanto a espera estraga os versos que não pude declamar.
    Não são teus, nem meus, são de alguém cuja alma não existe e em plena luz do dia perco-me em estrofes vazias, sem rimas e questionamentos estrangeiros.
    Bebo toda a perspectiva da ideia fixa em agradar-te. E piso em caminhos ao Déjavu que minha mente controla desde o primeiro encontro.São pastilhas mastigadas com um sabor amargo que não cura a tosse. São vozes roucas, esmaltes descascados em unhas roídas pelo tempo que estraga até papel.
    E não é você. Não possui nenhum resquício de você. Atrás do palco a cena é outra. Não decorei o texto, não sei as falas e muito menos porto o figurino imposto pela demarcação de olhares.
    A incerteza é minha companhia. E diante ao vazio que demarca o teu corpo papeio com a solidão. É um papo longo, estranho e chato. Mas ao decorrer da estranheza, monstros viram borboletas e voam ao encontro da liberdade.
   Seja teu, seja meu, sejamos o dó que vira mi maior e cresçamos na melodia que o som do eterno provoca em nós. Até quando parar de bater...


domingo, 20 de maio de 2012

Do seu corpo são poesias!

Era como se fosse uma poesia. A estrofe, as linhas embaralhadas, o papel, o lápis, a forma poética, o olhar crítico, o amor...
O livro do seu corpo era aberto. O toque, os cabelos negros encontrando os cabelos avermelhados. Era uma junção do oposto com o que queria ser posto. A voz na pele a pele na boca. A intenção de uma ideia partida e comida com os olhos. E que olhos!
Inesperado. O peso em seus ombros foi totalmente esquecido diante outro peso, o do nó. O mais conhecido: Nó na garganta. E ao mesmo tempo o mais intencional. Era para ser momento apenas. Florear com palavras, gestos e adornos não tinha necessidade. E a mão poderia levar para onde quiser e levou. A mão estendida fez chover flores com espinhos não cortantes sobre o lado mais aberto que o corpo deixou.
Arte concisa. Pré-arte, pós-arte, arte inacabada, arte barroca, arte contemporânea, pop arte, todas as artes. A junção da obra com o autor. Todos os autores. O borrão que fez história. O borrão mais borrado e lindo que fez história. O borrão que não é borrão, mas são traços contornados, esmiuçados, cantarolados, desenhados, premeditados e novamente: Intencionados. A sua arte e de ninguém mais.
Agora posto em suma, guardado em baú pintado à mão, diz que é seu. E é seu. Nada além de poetizar. Nada além de doar. Imerso a dualidade de estranhos, deixa o silêncio merecido e invadido encontrar com os cabelos, agora já alvoroçados pelas horas que já se fez ausência. A rima sombreada. O chão pisado, embriagado pelo cheiro das lembranças, em quarto escuro, arejando o que se pode ainda salvar. Emoções trêmulas e o grito de “alto lá” que o corpo pretendia dizer.

Poesia. A sua poesia.


Trecho de Saia de Retalhos!

(...)
A menina da saia que corre. A menina do medo que some. A menina da infância enrugada e da velhice colorida. A menina do amor imenso que o mar transformou em ondas e faz quebrantar todo dia na sua praia. A menina palerma da boca de cera. A menina do olhar inventado por todos que a olham. A menina acanhada do interior da imensidão que colhe flores todos os dias em jardins suspensos na babilônia rotina do mais populoso centro da cidade. A menina da saia de retalhos que retalha seus sonhos e sonha o amor do amor de outra menina. A eterna menina que está nas mulheres já mortas pelo descaso de uma imensidão de meninas iguais, em série, de um jogo de quebra-cabeça. A sua menina. E ao término, a pergunta do esquecido: Onde está a sua menina?


(E ainda toca a mesma melodia do além-mar nas conchas enormes que a menina catava de tardinha...).