terça-feira, 17 de abril de 2012

Bilhete

           
 
    Olá.

Estou decidida. Obrigado por sempre dizer-me que meu jeito detalhista deixa-lhe encabulado. Eu agradeço. Fiquei várias vezes dentro de mim procurando os detalhes e ao invés de achá-los, encontrei o teu olhar.
 Obrigado por achar-me detalhista. Somente isso. E agora, digo-lhe: Você é engraçado, esperto, sorri com os olhos, tem as mãos mais espertas que já vi, tem mania de morder os lábios quando fica nervoso, tem cheiro de sol se pondo e olhar de menino entalado com o mundo. E por meu jeito detalhista de ser estou decidida. Ou melhor, não decido. Não decido quando olho-te no escuro enxergando a tua alma, não decido quando deixo meu corpo ser manchado por sua boca. Não decido quando atendo todas as ligações da sua voz. Não decido quando deixo partir a sua presença na minha vida. E parte.
   Agora concluo: Não sou detalhista, sou teimosa. E minha teimosia começa quando sozinha, deixo sempre seu corpo vir.

                                                                                      Não deixa o inverno chegar,
                                                                                                                                   A sua.








terça-feira, 10 de abril de 2012

Ventania

    A tristeza. Não. A melancolia. Dessas, tipo solitude. Não machuca mas faz pensar. 1h da manhã, ela rodava em sua cama estreita, abraçada com suas dores de quem não tem coisa melhor para reclamar. De tanto se revirar, desistiu. São cenas passando em sua mente a todo minuto e uma música que não parava de dedilhar a melodia, também não dava o sinal de stop.
  Sabe quando precisa desabar? Deixar escorrer, como tempestade, chuva grossa que machuca, raio que sai cortando no céu e dá medo? Então, exatamente assim...
  E quando ela, fechava seus olhos, tudo se movia. A canção era perfeita, tinha melodia, rima, refrão manso, música amor. E quando ela, fechava seus olhos,a sua saia se esvoaçava, seus cabelos emanavam por entre o céu, encaracolando-se com o vento, voando...voando!
 Não tinha a música apesar de receber muitas promessas. Não tinha a música. A tempestade não desabava, a chuva não caia, o raio não cortava e o medo já nem fazia cócegas. São tolices de criança que não conhece o fim do arco-íris. São tolices da imaturidade que não quer crescer.
 Esquecer-te de mim? A voz dos cabelos esvoaçantes perdoa o vento que não venta mais de forma larga. O corpo tronxo, esquisito, não reconheces? Estás a dizer: Estou aqui, ainda sei arrepiar!
 E tu não vens...A primavera com cheiro de jasmim não faz curvas. Não colore. O olhar intenso não traz aquele abraço acostumado a sorrir com covinhas.
 Esquecer-te de mim de uma forma comum. E comum são os outros.
 Ela fecha os olhos e deixa a música-amor tocar...O susurro é alto: Deixa ventar....voar!

Por: Mariana Nunes.


sexta-feira, 6 de abril de 2012

Divino

Eu lembrei de você e consegui ver o mar. Estava sem sol, era uma tarde nublada, mas ao contrário do que todos devem pensar, tinha muita gente na beira mar. O mar estava agitado (parecia que ele lia meus sentimentos), e quando me sentei, mesmo em meio à conversas, eu pude sentir cada onda batendo forte no banco de areia. Fechei meus olhos por um minuto e senti. Tem hora que não conseguimos sentir. Andamos, acordamos, pegamos o ônibus para o trabalho, trabalhamos, voltamos, lemos, ou não lemos, tomamos banho, e mais um dia de rotina. E não sentimos, absolutamente nada. Nem ao menos a água gelada do chuveiro caindo em nosso corpo cansado. Mas naquela tarde eu senti. E nesse minuto-instante em que fechei meus olhos, lembrei de você. E senti paz. Mesmo com o coração transbordando, precisando desaguar, mesmo com pessoas especiais ao lado, mesmo assim, precisava desaguar. E o mar, agitado, porém sábio, entendeu perfeitamente o meu desejo. Foi um olhar mútuo, e assim, a plenitude do infinito fixou em minha alma, e meu coração foi atropelado por uma paz estridente. Precisava dessa paz. Senti a paz. E ao senti-la, lembrei-me de você. Poderia ficar ali horas, conversando, pensando ou até mesmo admirando o silêncio. Mas foi breve, um breve instante pleno. Que em minha memória-alma está escrito como: Divino.


Mariana Nunes.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Platônico

O toque ao escorregar tua pele deixa o drama começar.
Ao sentir o livre toque, lágrimas espalham a maquiagem que tanto escolheu.
São castanhos o teu olhar e amargo o teu amor.
Sozinha em um quarto escuro, adormece os lábios secando as palavras que iria pronunciar. Lábios secos, borrados e impetuosos. Tragando mais um cigarro.
Sendo imunda, mesmo em grosso lodo, lava a tua alma, toda vez que deixa encerrar.
O vento em face, a sinceridade. São espadas cortantes, ombros desnudos. Amor em ato sozinho. Platônico.
Com os olhos fechados, sente o silêncio.
Mais uma estrofe se desmancha...
Á espera do telefone, mudo, tocar.


Mariana Nunes.