Eu não preciso ouvir coisas bonitas, não preciso deixar teu olhar me invadir me fazer calafrios, não preciso de rimas, não preciso de beijos, de luzes acesas, de loucuras, de ser bicho-homem, bicho, não preciso ser. Porque quando penso que sou,interrogo meu corpo, e em cada pedacinho vejo que existem dúvidas, e na pele escorrida, recém molhada pela chuva gelada, o talvez é nítido. E é por isso que não preciso do que posso precisar. E fica o silêncio. A língua na língua, que a fala não preenchida deixa sucumbir. Milhões de estrofes não ditas, versos não conjugados, alma invadida, e o que posso não precisar agora.
A volta é sempre mais demorada. Os passos extensos, a espera diferenciada, os lábios molhados, a vaga da escova de dente, o tapete enxargado, o lado da cama, aquele edredon amarelo. E quando dizia não preciso do seu olhar, me referia àquele olhar tolo de menino inexperiente, que ao final da noite insistia em fazer. Logo depois quebravam-se copos cacos, dentro de mim.
O não precisar, seria necessário em tempos modernos. Em tempos agora, mas como quem finge conhecer, deixo ir.
Por: Mariana Nunes
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